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lembranças do futuro.

- Você pode chegar à noitinha. Me beijar e me abraçar de mansinho. Trazer o meu jantar o fazê-lo você mesmo aqui, e depois servir para nós dois.
- E um filme, que tal?
- Ótimo! Ideal! Pode ser um romance ou um terror, vou te agarrar do mesmo jeito. Depois, poderíamos tomar um banho quente, um café e eu ia ler um bom livro na cama enquanto você dormia.
- Não, que falta de romantismo!
- Poderíamos ler juntinhos. Eu lia para você.
- Não! Prefiro que façamos amor até o amanhecer.
- De jeito nenhum! Ver televisão abraçados ainda é mais romântico. E quando chegasse o frio, aqueceríamos um o outro. De manhã, comeríamos de pijama pizza gelada com maionese na cozinha e depois eu me afundava no sofá para assistir jornal. Bem que você poderia fazer uma massagem, não seria nada mau!
- Nada de fazer amor?
- À tarde, depois que almoçássemos.
- Não, não tem graça nisso.
- Sempre teve!
- Como? Isso nunca aconteceu!
- É claro que aconteceu! Comeríamos, tiraríamos uma soneca, uma rápida, para dar tempo de voltarmos ao trabalho. Você voltava para sua casa na outra cidade, e eu ficava ansiosa para o próximo sábado.
- Do que você está falando? Eu moro a cinco minutos da sua casa, nos vemos quase todos os dias. Sobretudo, quando compramos pão na padaria de manhã.
- Não Henrique! Não finja que me esqueceu. Tudo o que passamos juntos é inesquecível, e o que planejamos é perfeito.
- Catarina, me nome é Davi. Acho que você precisa dormir mais.
- Está certo, Rodrigo. Passe lá em casa mais tarde para pegar suas coisas. Não o quero mais rever.
Então ela foi para cama, esperou o efeito do remédio passar e decidiu dormir, colocando o livro de física quântica que lia ao seu lado.
- Acho que esses homens são loucos demais para mim!
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Casual.

- Vou jajá matar alguém.

- O que, você ta jogando alguma coisa?

- Jogando? Não, não. Matar gente de verdade, é meu ritual antes de dormir.

- Tem um cara que eu quero matar. Um garoto me falou que vai me ensinar um murro que faz não sei o quê com o nariz. Quero aprender. Vou matar aquele idiota.


- Isso não condiz com você. Vai é meditar com aquelas músicas de barulho de cachoeira antes de dormir que eu sei.

- Ah, eu posso ser uma ótima pessoa, às vezes.

- Do tipo das que matam garotos estúpidos?

- Exatamente, fazendo assim um favor à sociedade, eliminando aquele porco que só traz prejuízo.

- E a sua meditação, ou religião, sei lá, não tem princípios contra isso?

- Deve ter, mas eu odeio aquele cara. Filho da puta, criança. Poser!

- Relaxa, menina. Vou é dormir.

- Frouxo, não ia matar não sei quem?

- Você leva tudo muito a sério, tenho certeza de que esse cara aí não fez nada de mais.

- Você não sabe de nada. Esquece, deixa pra lá, por enquanto. Mas um dia eu ainda explodo aquele viadinho.

Pequena, fraca, mas rápida. E daí se tem cérebro? Não pode ser um pouco violenta e corajosa? A garota saiu do msn e foi dormir.

vergonha na cara.

Não se preocupe. Eu era uma péssima escritora, mas, em respeito à arte, parei de escrever.
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enjôo.

- Ai, me dá um cigarro aí, vai.
- Não, nada disso.
- Que é? Só um... Sabe quanto tempo faz que eu não fumo?
- Mesmo assim...

- Agora pronto...

- Cara, se ela quer fumar, deixa...

- É, velho, ela tá nervosa.
- Também... Aquela declamação foi uma bosta! Bem que eu odeio poesia... mas faço... Fazer o quê?...
- Nunca entendi bem isso. Qual é teu motivo de fazer?

- Acho um absurdo ter que enfiar toda a história, toda a magia e criatividade em algumas estrofes, isso é uma prisão. Por outro lado, pra conseguir tem que ter muito talento. Muita disposição e muita vocação. Ah, sei lá. Eu amo e odeio a poesia ao mesmo tempo.

- Isso rimou.

- Ai, sai dessa. Odeio rimas. É ridículo quem rima.

- Não, tem rima que sai legal. Nem sempre elas são forçadas.

- Nada a ver! Elas sempre são forçadas. Quer um poema que rime todo em AABB, ABAB ou ABBA por coincidência?
- Não foi isso que eu quis dizer. Tem poesia que rimando fica muito bonita. São rimas... digamos... imprevisíveis. Não aquela que você lendo o começo do verso já sabe como vai acabar, com que palavra vai rimar.

- Dane-se a beleza. Poesia é bonita por acaso, aliás, uma boa poesia é bonita por acaso pra quem NÃO sabe ler poesia. Pra quem sabe, ela não precisa rimar, ser soneto ou porra nenhuma. Só precisa ter um grande sentido encaixado naquelas linhas tortas e sem estrutura.
- Olha, falou a poetiza.
- Ah, vai se foder. Sou mesmo, e daí? Você é que não sabe fazer nada. Rima amor com flor e acha que tem talento.

- De qualquer forma a declamação foi uma merda.

- Não se mete pow, vai se foder você.

- Ih, vai brigar comigo agora? Diz que é mentira, vai...

- Tá, a opinião é sua. Mas eu não acho que se fosse você que tivesse declamado ia mudar muita coisa.

- Eu declamaria melhor do que você, sem dúvidas. O problema foi que aquele ator de merda num entendeu o sentido do poema e fez tudo errado. Mas a idiota fui eu, nesse caso. O erro foi meu. Eu devia ter explicado melhor e não esperado que aquele ignorante tivesse cabeça pra entender, ou então eu realmente sou muito louca. A poesia devia tá uma bosta, mas se tivesse não tinha sido a vencedora. Foi ele mesmo, e eu que não soube explicar...
- Ah, fuma teu cigarro aí em paz. Agora, já passou...

- É. Putz, bateu uma fome
agora. Tem vinho ainda?
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Pêlos.

- Os pêlos dele me excitam! Eu adoro homens com o corpo peludo. Mesmo de longe fico toda arrepiada só de olhar para aqueles braços dele, braço de homem, não de garoto. Pêlos e pêlos, fico louca.
- Ai Abigail, pára com isso! Dá é nojo ver você falando assim do meu irmão.
- Que besteira, Joana! Ele é seu irmão, mas é homem mesmo assim. E que homem... Ui!
- Homem nada, ele só tem 17 anos! Você já tem 19, isso é feio, pow.
- Meu Deus! Como você é besta. Sério, você é muito engraçada. São só dois aninhos, . Nada muito considerável. Ele também não é nenhum inocente, ok? Já vi muito filme pornô no computador dele, sem contar com as menininhas que ele traz para cá.
- Você andou mexendo no computador dele? Quando isso, Abigail? Que coisa feia.
- Foi um dia aí.
- Gente, desculpem a minha intromissão, mas eu não aguento ficar aqui no quarto sem participar do debate. - risos- Abigail, você só faz falar! Nunca nem chegou perto dele. E, na boa, eu acho que ele é... gay.
- Cruz credo, Amanda! Claro que meu irmão é heterossexual. Se não, não traria essas 'menininhas' para cá.
- São as amiguinhas dele, !
- Ei, pode parar Amanda! Deixa minha cunhadinha em paz! Claro que o Ivens não é gay! E você se engana em dizer que eu nunca cheguei perto dele. Teve um dia aí que quase rola. ;)
- Sério? Só vendo para acreditar!
- É, eu também duvido que ele olhou para você! Ele nunca ficou com alguma amiga minha!
- Certo, se vocês não acreditam eu também não conto!
- Então é porque é mentira mesmo!
- Ta, eu vou falar. Foi num dia aí que os outros dois banheiros da sua casa estavam ocupados, . Como ele não estava em casa e eu precisava tomar logo banho para não perdermos a aula, decidi tomar banho no banheiro do Ivens. Aproveitei para olhar direito como era o quarto dele. A intimidade, particularidade. E no banho, nem lembrei que ele podia chegar a qualquer momento. Daí ele chegou, abriu a porta do banheiro e, por estar vendo apenas a minha silhueta por trás do box, falou, "Amanda? Faz o que no meu banheiro?". E eu respondi que era eu, e que se ele quisesse eu sairia dali, mas ele me deixou continuar e quando eu sai do seu quarto, só de toalha, tenho certeza de que ele me olhou até eu sair pela porta.
- Poupe-me, Abigail. Isso não conta! Meu irmão não fez nada com você.
- Mas faria se eu tivesse dado chance!
- Não sei não, amiga! Acho que a tem razão.
- Então vocês querem uma prova? Eu vou lá no quarto dele agora e vocês vão ver como ele vai me dar bola!
- Duvido!
- Não, nem pense nisso! Meus pais estão em casa!
- Melhor ainda, mais emoção...
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Toc toc.

- Mãe, eu já disse que não tô com fome. Depois eu como qualquer coisa!
- Não é a sua mãe, Ivens. É a Abigail!
- Abigail? Que foi?
- Abre, pow.
- Ta, entra aí.
- Bom, Ivens, vou ser bem direta. É que eu sou afim de você faz algum tempo. E eu queria saber se rola alguma coisa ou não.
- Co-como? Você é o que?
- É, imaginei que você fosse reagir assim. Então, já que você não consegue dizer, deixa eu te fazer relaxar. Vem cá, deixa eu te beijar.
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- Ei, o que você tá fazendo? A.. ah... p-pára com isso.
- Se não estivesse bom você não estaria gemendo. Quer realmente que eu pare?
- ...
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Toc toc.

-Ivens, sou eu, Eduardo. Vou entrando, tá?
- Eduardo! Não é nada disso que você tá pensando! Essa louca entrou aqui e começou a tirar minha roupa! E...
- ... e você deixou ! Muito bonito, cara! Me traindo com essa.... essa...!
- O que? Você é gay, Ivens?
- Gay não, mas eu sou bissexual!
- Tá explicando o que pra essa aí, Ivens? É para mim que você deve explicações.
- Desculpe, Edu. Eu fiz sem pensar.
- Mas que você gostou, gostou! Eu pude sentir.
- Não se mete garota! O assunto é entre mim e Ivens. O que você ainda tá fazendo aqui?
- Deixa ela, Edu! Eu sou afim dele ha algum tempo.
- O que? É por isso que sempre que as amiguinhas da sua irmã estão aqui, você não quer sair?
- É que desde um dia aí que eu a vi só de toalha, fiquei louco por ela.
- Ah, é isso, cara?
- Eu estou sendo sincero!
- E todo aquele amor que você tinha por mim?
- Ele ainda está aqui, Eduardo! Por ela é só desejo!
- Pois fique com ela e seu desejo, por que entre nós, acabou!
- Ah Ivens, vale a pena agir com a vontade do corpo, às vezes.
- Eu já mandei você não se meter, garota.
- Por que não? Você não acabou com ele?
- Quer saber... você tem razão. Adeus Ivens!
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- Droga! Não acredito que isso tá acontecendo! Eu amo o Edu, pow!
- Relaxa! Que tal a gente continuar de onde paramos?
- É, é uma ótima ideia. Deixa isso pra lá então, e vem aqui gatinha...
- Péra aí, você raspou os braços?
- Não só os braços, quase o corpo todo também.
- Por que?
- Ah, sei lá, eu acho muito feio.
- Eu hein, era o seu charme!
- Ah, deixa isso também pra lá.
- Não mesmo, quem vai pra lá sou eu. Fui.
- Sério, Abigail? Você não vai ficar comigo por causa disso?
- Sério, sem pêlos você não tem mais graça. Tchau.
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"O relógio e o cuco"



Cheguei em casa a pensar,
e as horas, que nao querem passar?
Quando olhei a porta me preucupei,
pois meus olhos pegaram vôo.
Ao entrar em casa,enjôo.
olhei o que tinha acontecido,
olhando os móveis arrependidos,
pois o cuco havia desaparecido.
Ao olhar o relógio me preucupei,
arrependimento, o que farei?
Deitei-me no sofá para descansar,
mas seus olhos só me levavam a chorar.
Entre lágrimas,
tentei perguntar: e esses olhos, para quê chorar?
Olhando para mim, ele tentou responder: para se areepender, pois o cuco, tentou ver
o que era a dor para viver.



De: Daniel Monte

Do outro lado, todo mundo é bonzinho.

Eu o esperava há quase uma hora. Era de costume ele demorar, então, toda vez que ia encontrá-lo eu até levava um livro comigo para ler enquanto ele não chegava, mas, dessa vez, a agonia era tão grande que o livro nem chegou perto das minhas mãos suadas. Fiquei andando para lá e para cá, nervosa. A notícia que eu tinha para dar a Cássio não era nada boa. Foi quando eu resolvi sentar um pouco e me acalmar que eu o avistei no longe. Vinha andando calmo, como se não lembrasse que ao telefone eu dissera-lhe que tinha uma notícia desagradável para dar. Vinha olhando a paisagem, aparentemente com a cabeça no mundo da lua. Vinha, sem dúvidas, cheio de impossibilidades e limitações nas costas, como sempre. E, com certeza, vinha cheirando a álcool, na certa algum barato, dos piores. Quando ele se aproximou, depois de quase tropeçar na calçada, identifiquei o seu 'perfume'. Era vinho dessa vez. Ele me cumprimentou com um beijo torto e perguntou as novidades. Continuava parecendo que ele havia esquecido de que eu tinha algo sério para falar. Tudo bem. Estávamos em frente a um shopping, convidei-o a entrar para tomar alguma coisa em alguma lanchonete, "eu pago" fiz questão de acrescentar antes de ouvir a sua resposta. Entramos em qualquer uma e sentamos ao fundo. Pedi um café, e ele, antes de que eu terminasse de perguntá-lo o que queria, disse que desejava uma cerveja. "Uma cerveja --'". Ai, ai. Enquanto traziam nosso pedido comecei logo o tal assunto...
- Cássio, eu sei que aqui não é lugar psra dizer isso, mas não posso adiar mais. Vou direto ao assunto?
- Sim Rita, nem me lembrava mais disso. Mas pode falar aí que agora fiquei até curioso. - Falou isso com um sorrisinho no canto da boca.
- Bom, com a Lívia no hospital internada, eu até achei que você tivesse pelo menos pensado no que poderia ser. - Lívia, minha irmã. Esposa de Cássio. Estava internada em um hospital fazia dias, grávida e desamparada.
- Não, eu não.
- Bom... infelizmente... Lívia perdeu o bebê. - Aquela frase fria, seca... saiu pela minha boca cortando minha garganta e ferindo-me por dentro.
- Q-que pena... que pena - O seu último 'que pena' saiu quase inaudível. Olhando para o chão ele tentava disfarçar a expressão, e funcionou.
Depois não me perguntou mais nada. Ficou mundo. Bebeu a cerveja, pediu outra. Eu também, acho que pela aparente falta de interesse dele, fique calada. Deixei o dinheiro da conta e saí.
Ainda sem saber no que pensar, fui a pé dar uma volta pela cidade.
Já estava anoitecendo quando avistei alguém conhecido. Era a silhueta de um homem, em um bar de esquina, bebendo e rindo com uns amigos. Era, claro --', Cássio. Nem falei nada, cada um reage como quer ou como pode aos problemas. Se é que era problema para ele.
Acendi um cigarro. O meu isqueiro estava quase seco. Coloquei as mãos nos bolsos, tirando apenas para tirar o cigarro momentaneamente da boca. Andei pensando no relacionamento dos dois. Moravam juntos. Não tinham filhos. Não brigavam muito. Que eu saiba, não tinham problemas com sexo. Ele a visitava no hospital duas vezes por semana. Eu nunca soube de alguma traição. Tudo bem, pelo que parecia. Achei que ele fosse ligar mais para o fato de ter perdido seu primeiro filho, mas, quem sabe, talvez tivesse sido melhor assim.
Depois de uns cinco dias, na minha casa, recebi um telefonema. Era a mãe de Cássio. Ela pedia desculpas pela ausência do filho. Dizia que ele estava mal e se trancava em casa e passava o dia bebendo e vendo tevê, mudo. Para mim, ele parecia muito era bem. Dona Anita, mãe de Cássio, estava bem triste. Perguntei o que era, o que tinha acontecido... Ela me respondeu...
- Nada Rita, não é nada. Apenas acho que meu filho não estava preparado para receber aquela notícia...
- Mas dona Anita, ele me pareceu reagir muito bem...
- É estranho o jeito como algumas pessoas reagem aos problemas não é?
- Concordo, mas...
- Suicidando realmente é o jeito ideal...
- Como assim, do que a senhora está falando?
- Oh, você não soube? --'. Pensei que soubesse, já que toma suas conclusões quanto ao jeito de reagir do meu filho.
- Eu o encontrei rindo e bebendo depois de tê-lo enc...
- Chega, Rita! Cássio se matou noite passada. Já perdi um neto, agora um filho... Ele deixou um 'bilhete' dizendo... 'cansei das minhas impossibilidades e limitações, deixo aí outra chance para Lívia'.
Tão sem sentido, aquele bilhete. Dramático. Exagerado. Ele não era aquele bom e sincero homem que me aparentou ser, ao escutar sua mãe lendo seu bilhete de despedida, ao telefone.
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