Anforismos.

E eu já perdi a conta de quantas vezes fiquei sentado ali esperando aquele telefone tocar. É estranho. Esse não deveria ser o papel da mulher na relação? Então nossos papéis estavam invertidos. Ela ficava, brincava, jogava. Ela sabia que os meus sentimentos e a minha vontade de ouvir, por um minuto sequer que fosse, sua voz de timbre tão raro e tão intimista, não se aquetaria e não se acabaria, não se acalmaria enquanto ela não desse um sinal. O meu maior erro foi esse. O de deixá-la perceber o quão importante era, para mim, saber que ela se lembrou de mim. E ligando, ela me mostrava isso. O que mais me tremia as pernas era notar que isso vinha acontecendo, a cada dia, menos vezes.
Às vezes eu sentia que precisava fazer em mim uma reforma. Uma análise e um julgamente. Às vezes eu achava que precisava pesar o que havia dentro de mim, e decidir o que ainda era necessário e o que tinha que ir pro lixo. Tanta coisa iria pro lixo. Principalmente aquela minha necessidade tão ridícula e humilhante.
Sentado à mesa, esperava Rebeca desenganado. Pela terceira vez na semana ela havia marcado comigo na lanchonete da esquina e me deixava somente a esperar. Nem se importava em ligar para avisar que a sua presença não seria um acontecimento do encontro. Que não haveria o encontro. Mas acho que ela não sabia... é, não sabia dar o braço a torcer e discar meu número tão fácil de decorar, ao menos.
Aos poucos, finalmente, eu ia percebendo aquela mania feia que eu tinha de ficar olhando para o display do celular sem parar, desejando mais do que tudo ver surgir ali o nomezinho 'Rê', enquanto que ele vibrasse em minhas mãos. Aos poucos, finalmente, eu ia me tocando de que aquilo era ridículo. Que eu não precisava daquela garota pra dormir em paz.
Aos pouco, finalmente, eu ia me cansando de sair de casa com um único motivo: esperar, e SÓ esperar, aquela loirinha traíra entrar pela porta e tocar o sininho de entrada da lanchonete quase vazia, me fazendo pular de alegria... em vão.
'Pra quê? '
E, finalmente, eu abri os olhos e vi que de nada serviria ficar ali, e que mesmo que ela chegasse seria tempo perdido ficar sentado àquela mesa, olhando para aqueles olhos falsos e vazios, de Rebeca. Foi aí que ela chegou. Parecia ironia.
- Oi André, hoje eu vim! (:
- Sério? --'. Mas eu já preciso ir.
- Ah ;x, porque?
- Porque, não sei se você já percebeu, a gente não tem assunto para conversar! :D
- Mas André...
- (♪) - O único som no momento foi o produzido pelo sininho da porta quando eu saí.
(...)

1 comentários:

Lucas Xavier de Melo disse...

Ah, ficou ótimo.
Nota-se claramente a mudança de um ser ao querer valorizá-lo em uma relação. Ainda mais além, ele não só mostrou à rebeca que tem um valor, como mostrou a sí mesmo que não poderia ficar dependendo dela para atingir à uma felicidade.

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