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enjôo.

- Ai, me dá um cigarro aí, vai.
- Não, nada disso.
- Que é? Só um... Sabe quanto tempo faz que eu não fumo?
- Mesmo assim...

- Agora pronto...

- Cara, se ela quer fumar, deixa...

- É, velho, ela tá nervosa.
- Também... Aquela declamação foi uma bosta! Bem que eu odeio poesia... mas faço... Fazer o quê?...
- Nunca entendi bem isso. Qual é teu motivo de fazer?

- Acho um absurdo ter que enfiar toda a história, toda a magia e criatividade em algumas estrofes, isso é uma prisão. Por outro lado, pra conseguir tem que ter muito talento. Muita disposição e muita vocação. Ah, sei lá. Eu amo e odeio a poesia ao mesmo tempo.

- Isso rimou.

- Ai, sai dessa. Odeio rimas. É ridículo quem rima.

- Não, tem rima que sai legal. Nem sempre elas são forçadas.

- Nada a ver! Elas sempre são forçadas. Quer um poema que rime todo em AABB, ABAB ou ABBA por coincidência?
- Não foi isso que eu quis dizer. Tem poesia que rimando fica muito bonita. São rimas... digamos... imprevisíveis. Não aquela que você lendo o começo do verso já sabe como vai acabar, com que palavra vai rimar.

- Dane-se a beleza. Poesia é bonita por acaso, aliás, uma boa poesia é bonita por acaso pra quem NÃO sabe ler poesia. Pra quem sabe, ela não precisa rimar, ser soneto ou porra nenhuma. Só precisa ter um grande sentido encaixado naquelas linhas tortas e sem estrutura.
- Olha, falou a poetiza.
- Ah, vai se foder. Sou mesmo, e daí? Você é que não sabe fazer nada. Rima amor com flor e acha que tem talento.

- De qualquer forma a declamação foi uma merda.

- Não se mete pow, vai se foder você.

- Ih, vai brigar comigo agora? Diz que é mentira, vai...

- Tá, a opinião é sua. Mas eu não acho que se fosse você que tivesse declamado ia mudar muita coisa.

- Eu declamaria melhor do que você, sem dúvidas. O problema foi que aquele ator de merda num entendeu o sentido do poema e fez tudo errado. Mas a idiota fui eu, nesse caso. O erro foi meu. Eu devia ter explicado melhor e não esperado que aquele ignorante tivesse cabeça pra entender, ou então eu realmente sou muito louca. A poesia devia tá uma bosta, mas se tivesse não tinha sido a vencedora. Foi ele mesmo, e eu que não soube explicar...
- Ah, fuma teu cigarro aí em paz. Agora, já passou...

- É. Putz, bateu uma fome
agora. Tem vinho ainda?

4 comentários:

sempreemim disse...

real?

debs disse...

não. rs

Rêmulo Melo disse...

Que louco, ao mesmo instante que critica a poesia, usa dela para sentir-se bem. Boa.

Paloma Pajarito disse...

kkkkkkkkk; coitada! angustiazinha, hein. acontece.

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